Na florista exígua do hipermercado escolhe com gosto, flor a flor, as eleitas que pretende no ramalhete, hesita, faz uma pausa, pensa e pondera sobre os tons da cortina, avalia se a paleta se combina, sim, porque ficarão no centro da sala, - (no seu céu?); ajusta um enquadramento equilibrado de cores e tamanhos, gosta de variedade, - ( manias…, dirão), todas são diferentes, preferidas pelos traços próprios, cada uma tem o seu significado ou simbolismo particular inerente a esse mesmo desejo plural.
Na grande superfície a luz e o som são excessivos num tom quase impositivo, é mais um ano que celebram com gritos e histérico entusiasmo de trombetas em algazarra.
num gesto desvairado
atravessa de rompante
a luz da esplanada
um buquê de flores em riste
um sorriso sorrindo triste
vendo o rosto amarrado,
agastado com o mesmo cenário.
ela, que leva a mala emproada,
alma que há muito não existe
e que mora ali naquele prédio
num andar deslumbrante,
passa, empurrando o tédio
e a rotina de um dia torto
rodeada do desconforto
de mais um aniversário
esquecido.