Poemas : 

Olhar Cego nº 35

 
Este texto não pertence à Administração. Trata-se de uma colaboração de um Luso-Poeta, que participou de forma anónima no jogo "Olhar Cego". No final, revelaremos a sua identidade. Convidamos os utilizadores a pontuar e a comentar o texto à vontade, como fazem com qualquer outro.

Depois da última linha, tudo voltará a ser mar...

Após decifrar o significado dos aplausos,
[a saudação precoce dos futuros regressos].

Reuni todas as ilusões,
E nenhuma delas
Era verdadeiramente minha...
Nem as imagens refletidas,
Nem os versos mais altos,
Nem as presenças ouvidas.

Nunca fui, nunca chegarei a ser...
Nunca poderia ser aquela menina
Com olhos das três estações
E da liberdade na voz,
Um milhão de vezes conquistada.

Sei bem o que fiz,
Arrombei o camarim da imaginação
Para esconder as dores, os amores da sua pele.

Vesti as barbas do Pai Natal,
O avental da criada,
As rugas maduras da senhora mais árvore.

Calcei a coragem do corredor,
Peguei no pincel do pintor
Para desenhar suas falas.

Adotei a rua
Do mendigo mais pobre.

Roubei as assinaturas mais belas
E torci suas linhas
Para disfarçar os nomes.

Estiquei as ondas
Para boiar nelas
As suas letras
Mais ditosas.

No final,
Dei a cara
Para chorar
Suas lágrimas...

Ela sou eu,
Eu,
Nunca poderia ser ela.

 
Autor
Luso-Poemas
 
Texto
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Enviado por Tópico
Alemtagus
Publicado: 01/10/2024 17:42  Atualizado: 01/10/2024 17:42
Membro de honra
Usuário desde: 24/12/2006
Localidade: Montemor-o-Novo
Mensagens: 3407
 Re: Olhar Cego nº 35
Bravo! E se os aplausos são merecidos.
Quase que poderia dizer que neste pedaço de mundo poético consegui ver uma das melhores curtas-metragens alguma vez aqui publicadas, quiçá a melhor... tal a envolvência que a leitura me trouxe ao texto.

A forma extraordinária como se desenha cada uma das imagens torna-se divinal quando se ligam os elos de cada estrofe, nem se nota a estrutura irregular do poema, é límpido.

Acalmar o mar não é para todos, mas é assim que termina esta pequena odisseia

Estiquei as ondas
Para boiar nelas


Bravo!

Enviado por Tópico
MariaMorena
Publicado: 01/10/2024 19:03  Atualizado: 01/10/2024 19:03
Colaborador
Usuário desde: 07/06/2024
Localidade: Argumentar sem agredir é ser grande.
Mensagens: 624
 Re: Olhar Cego nº 35
“Depois da última linha, tudo voltará a ser mar……”( esse poema me deixa incompleta, falta-me sentimentos, durante a leitura eu vou explicar)

…[a saudação precoce dos futuros regressos]....( Os aplausos é porque deixou um gostinho de que querem mais ou provado)

…Reuni todas as ilusões,...( Você reuniu e depois o que fez com elas, o que se faz)

…Nunca poderia ser aquela menina…( vai depender muito de quem vai ler o poema, eu me identifico com ele e se você conhece a menina é sinal que seja possível ser ou voltar a ser)

…Com olhos das três estações
E da liberdade na voz,...( Ah! Fala mais dessa menina)

…Sei bem o que fiz,...(Continua sendo menina)

…Estiquei as ondas
Para boiar nelas…(existe algo que não se possa imaginar)

…Ela sou eu,
Eu,
Nunca poderia ser ela….( Ela é a imaginada)

Eita menina!

Enviado por Tópico
Benjamin Pó
Publicado: 02/10/2024 14:06  Atualizado: 02/10/2024 14:06
Administrador
Usuário desde: 02/10/2021
Localidade:
Mensagens: 588
 Re: Olhar Cego nº 35
.
Um poema como este deixa pouco espaço para comentários interpretativos, pois a sua perfeição melódica e imagética será sempre imperfeitamente reproduzida sob outro discurso que não o poético. Assim sendo, limito-me a admirar a técnica literária e a comover-me com a expressividade dos sentimentos e das suas metáforas.