Poemas : 

Olhar Cego nº 23

 
[Este texto não pertence à Administração. Trata-se de uma colaboração de um Luso-Poeta, que participou de forma anónima no jogo "Olhar Cego". No final, revelaremos a sua identidade. Convidamos os utilizadores a pontuar e a comentar o texto à vontade, como fazem com qualquer outro.]

Sou somente um corpúsculo

Caminhando ao acaso os meus passos percorrem a areia escura da praia, ouço o bater ímpeto das ondas e eu acorrentada debato-me com os pés nas pedras e o olhar fixo no horizonte, delineando asas febris. Escondo os olhos, para esconder uma lagrima que desliza silenciosamente nestas horas que me cobrem

O horizonte fecha-se à minha frente, mas eu continuo a rompe-lo, a perfura-lo, incessantemente, penetrando-o avidamente. Sou somente um corpúsculo que amanhece todos os dias, coberto de pontos escuros e claros, como o dia e a noite, como a mágoa e o prazer, como um voo atribulado de um pássaro sem cor, como a luz obscura do sol, como eu…e tu, em saudade

Liberto-me em sacudidelas intermitentes e repentinas, como os saltos de uma pantera emergindo e reinvento versos, tentando esconder as fissuras alongadas do tempo penetrando o corpo

O meu sangue, de vermelho vivo, esmurra-me o peito, através dos olhos os pássaros escalam as montanhas do teu corpo e as borboletas dançam na pele, ondulando o orvalho translucido dos corpos.

Agarro-me á fimbria das palavras e vagueio nos poemas, onde os reflexos se entrelaçam como amantes insanos e os corpos diluem-se perdendo docemente as suas formas originas.

Dissipo as nuvens de poeiras latentes e mergulho na plumagem intensa de sensações que percorrem o corpo, como o coro nocturno dos pássaros, inundando-o de brilho e de êxtase…

E o silêncio volta a fechar-se sobre mim, longínquo… como um monstro que nos acorrenta à vida, numa significação atroz do eu…longe do tu, no verso de um poema que ainda não concluí


 
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Luso-Poemas
 
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Enviado por Tópico
Alemtagus
Publicado: 25/09/2024 17:47  Atualizado: 25/09/2024 17:47
Membro de honra
Usuário desde: 24/12/2006
Localidade: Montemor-o-Novo
Mensagens: 3281
 Re: Olhar Cego nº 23
Raios, alguém que tire as grilhetas à moça pequena (um corpúsculo)... Se a maré sobe!

Ora vamos lá (gramaticalmente):

O horizonte fecha-se à minha frente, mas eu continuo a rompe-lo, a perfura-lo, (...)

A forma correta é “rompê-lo”. Quando usamos o pronome oblíquo átono “o” após um verbo no infinitivo, é necessário usar o acento agudo para manter a tonicidade da vogal “e”. (https://www.conjugacao.com.br/verbo-romper/)

A forma correta é “perfurá-lo”. Quando o verbo está no infinitivo impessoal (terminado em -ar, -er, -ir), o pronome oblíquo átono (como “o”) deve ser ligado ao verbo com um hífen. (https://www.conjugacao.com.br/verbo-perfurar/)

O texto...
O primeiro parágrafo remete a leitura para actos impossíveis, felizmente que os há, caso contrário ninguém tentava ir mais além. Atingir o horizonte, por exemplo, e penetrá-lo é, de todo,... impossível! Parece-me que é uma forma de dizer que se quer ir mais longe, uma boa metáfora.
Parágrafo dois (permitam-me o gracejo) a sacudidela faz lembrar qualquer coisa que não a boa da pantera... e depois usar os versos para tapar as rugas, interessante mais esta imagem.
3º parágrafo, somos terra, da terra montanhas, das montanhas árvores, das árvores ninho e de seguida suicídio porque tudo isto desaparece.
Parágrafo quatro... imaginar-me pendurado nas franjas das palavras e sentir o corpo a perder a forma de gente, isto é Dali.
... a dor de cabeça de quem é alérgico!
6º parágrafo, fechar com chave de ouro:
E o silêncio volta a fechar-se sobre mim, longínquo… como um monstro que nos acorrenta à vida, numa significação atroz do eu…longe do tu, no verso de um poema que ainda não concluí

Conclua, por favor!

Enviado por Tópico
MariaMorena
Publicado: 25/09/2024 18:07  Atualizado: 25/09/2024 18:07
Da casa!
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Mensagens: 291
 Re: Olhar Cego nº 23
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…Sou somente um corpúsculo…( Maria e muitas María, título já nos apresenta o poema, gostei da palavra corpúsculo e também sou um pedaço do funcionamento)

…delineando asas febris….( Tirar só um pedaço do poema é perder vitamina, e na luta constante e que às vezes perco, criar asas, voar, é um presente para poucos e aqui se encontra)

…um pássaro sem cor,...( Esse trecho me levou a imaginar um pássaro que vai mudando sua cor, diferente de um camaleão sem ser covarde, ele não fica parado mais sobrevoa com os olhos de águia)

…fimbria das palavras…( faz parte do meu corpo e eu desconheço e adorei esse misturar de palavras junto com mulher, espero sempre por seus frutos)

…um poema que ainda não concluí…( eu gosto do sentimento de incompleto, como tendo algo a mais, é que o vazio me adoece)