Profuso, o sol sobre o manto.
Dedilha a luz como cordas de harpa.
Lançando raios fulvos. No ouro matinal,
nascem pássaros falantes.
A esvoaçar a paisagem.
Abro um dos meus olhos.
O aberto, ainda escurecido pela noite.
O fechado, açambarca a inocência.
Pelo gemido à volta da boca.
Balbucia a viagem que se abate no ar.
Vivo num corpo incestuoso.
Num frémito com peito impuro.
Relembra-me que há uma raiz.
Como um bolbo de lírio-do-rio.
Ambos vivem em leito aquoso.
Envelheço em solidão com as aves.
No refúgio de mim e da minha sombra.
Com a madureza batida pelo vento.
Sinto o corpo a decidir pelo corpo.
Sinto-o a perecer por mim dentro.
O meu pulso está como seixo de rio.
Fundo. Quando o procuro com pressão.
Perdido na lama dos dedos que o tocam.
Sinto nós de um abismal arvoredo.
Somente terra e pó ficam com expressão.
Zita Viegas