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Olhar Cego nº 21

 
[Este texto não pertence à Administração. Trata-se de uma colaboração de um Luso-Poeta, que participou de forma anónima no jogo "Olhar Cego". No final, revelaremos a sua identidade. Convidamos os utilizadores a pontuar e a comentar o texto à vontade, como fazem com qualquer outro.]

Um punhado, de nada.

Nas mãos, carrego um punhado de nada
Esse vazio palpável feito de ausências
Pesa mais do que qualquer coisa concreta
É o espaço entre as palavras não ditas
Um intervalo entre um gesto e outro

A vida se esconde sem deixar rastros.
Um punhado de nada é silêncio que cala fundo
O próprio ser que envolve e abraça
Parado diante desse vazio,
Percebendo que ele contém tudo

Os sonhos que nunca vieram
As esperas que não se cumpriram
E é aí que deixa as suas marcas
O nada, esse punhado que mal se vê
É também promessa e possibilidade!

 
Autor
Luso-Poemas
 
Texto
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Enviado por Tópico
Alemtagus
Publicado: 24/09/2024 16:27  Atualizado: 24/09/2024 16:27
Membro de honra
Usuário desde: 24/12/2006
Localidade: Montemor-o-Novo
Mensagens: 3281
 Re: Olhar Cego nº 21
O cheio e o vazio, sem que o sejam pelo meio, ou é ou não é!
A envolvência que nos traz a soma de dois saberes que, em desequilíbrio (por não poderem coexistir em simultâneo), se digladiam, é violenta, levando o leitor a um transe linguístico e depois devolvendo-o a uma realidade já diferente, porque, sem darmos conta disso, enveredámos por um caminho que não nos era destinado. Este texto parece ter a capacidade de moldar certos aspectos de um futuro supostamente fixo.
Viver e conviver com o que nunca se sonhou e encher tudo de nada ou nada de tudo, são conceitos complexos, merecedores de dedicado estudo.

Duas coisas que gostava que acontecessem a este texto, nem que fosse num universo paralelo (ou numa página ao lado): primeiro que houvesse alguma preocupação com a rima (poderia engrandecê-lo ainda mais), segundo que tivesse continuação em iguais moldes.

Enviado por Tópico
MariaMorena
Publicado: 24/09/2024 17:52  Atualizado: 24/09/2024 17:52
Da casa!
Usuário desde: 07/06/2024
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Mensagens: 291
 Re: Olhar Cego nº 21
…Um punhado, de nada….(Gostei dessa vírgula no meio, podemos ter um punhado de muitas coisas, eu tenho muitos nadas)

…Esse vazio palpável feito de ausências…( temos mais que um sentido para saber que algo existe e sendo assim palpável)

…É o espaço entre as palavras não ditas…( um espaço que não traz vida e nem se concretiza, cheios de se que parecem se assombrações cheias de vida)

…Percebendo que ele contém tudo…( engolindo um pedaço da vida, um parasita que não morre enquanto em nós existe vida)

…promessa e possibilidade!...( Esperar algo por muito tempo e alimentar do vento)

Bem faz eu que vivo

Enviado por Tópico
antóniobotelho
Publicado: 26/09/2024 09:49  Atualizado: 26/09/2024 09:49
Da casa!
Usuário desde: 13/04/2010
Localidade: Viseu
Mensagens: 335
 Re: Olhar Cego nº 21
Bem conseguida uma promessa de tudo e nada!

Enviado por Tópico
Benjamin Pó
Publicado: 26/09/2024 12:10  Atualizado: 26/09/2024 12:10
Administrador
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Mensagens: 530
 Re: Olhar Cego nº 21
.
O Alemtagus e a MariaMorena já analisaram muito bem o poema, mas deixo aqui mais uns apontamentos:
- a expressividade da vírgula no título, que pode parecer um erro ou distração, mas que desta forma sugere que as palavras "de nada" funcionam como a resposta a um "obrigado", dito por algo ou alguém.
- as ausências, os intervalos, os vazios, as pausas... -- são esses os elementos onde, muitas vezes, surge a poesia, essa "promessa e possibilidade" que, sendo punhado, também é imensidão.