A manhã veste-se de névoa e silêncio,
Como se o mundo hesitasse em acordar.
Os raios do sol, tímidos e longos,
Brilham entre árvores nuas,
Rasgando a incerteza do ar.
Quem sou eu, senão o eco dessas sombras,
Dessa luz que não sabe se chega ou se parte?
O dia começa, mas em mim tudo permanece,
Como as árvores que, mesmo sem folhas,
Guardam em si a promessa de outra estação.
Ah, quem me dera ser a bruma,
Que existe sem se saber.
Um instante eterno entre o agora e o depois,
Sem o peso do que fui, sem a ânsia do que serei,
Apenas existindo, levemente,
Como o véu de névoa que cobre o campo.
Mas eis que o sol insiste em nascer,
E a vida, com sua inflexível rotina,
Me chama de volta ao chão,
Onde as sombras crescem,
E os passos são traços que desaparecem.
Sou como essas árvores, presas ao que sou,
Mas sonhando com o que poderia ser,
Raízes na terra, ramos no céu,
Entre o silêncio e o vento,
Entre o tempo que passa e o tempo que permanece.
Há em mim uma saudade do que nunca vivi,
Um cansaço do que nunca fui.
Mas, como essas árvores que suportam o inverno,
Eu espero a primavera,
Que sempre vem, ainda que demore,
E enche de folhas o que parecia morto.
Enquanto isso, deixo-me perder na névoa,
Entre a luz que desponta e a escuridão que some,
No intervalo fugaz de uma manhã sem pressa,
Onde o tempo, por um breve momento,
Esquece de ser.
Nuno Nebel