Os caminhos são sempre os mesmos...de dor em dor, a paisagem de mim, não muda...nunca...
O por do sol já não me traz aquela beleza antiga, as ruas não tem nome, ainda que as setas apontem o destino...da fuga de mim e das paredes com as quais meu corpo não quer se defrontar..
Estraçalhada está a imagem que me aplaca por dentro...com nuvens de poeira que se perdem de vista...essa crueldade e punição que me cerca a existência...
Com a chuva é assim também...prenuncia dentro de mim mais uma tempestade, na qual me abrigo diante das gotas gélidas que caem sobre minha face e, por ser ácida, corrói cada membrana que recobre o meu corpo...
Por onde eu vá a idealização continua seca....assim sempre foi...apenas a visão anterior estava turva...me enganando que as coisas seriam bem maiores e melhores...
Essa foi a minha maior covardia...falar sem ser ouvida...o meu único gesto onde me agarrei com tanta força e quando tudo veio abaixo, desabando pontes e muros interminavelmente, os papéis deixaram de cumprir a missão exata...
Ahhh...hoje só tenho folhas brancas e um nojo nauseante, cujos olhos não suportam uma letra sequer...uma única palavra...despi-me de tantas e outras considerações...insuportável me são os livros, páginas escritas e o tal orgulho derramou-se apenas em uma grande fragilidade que me vai por dentro...
Carreguei títulos esdrúxulos, desonestos, para que hoje, nem sequer seja possível se ter noção do quanto e por quanto tempo será a sobrevivência...
Tornei-me um escombro de mim...construções velhas...bombas destruidoras...a cada respiro sinto que é o último...e me questiono até quando a divindade existente entre o céu e a Terra terá misericórdia de quem apenas quer estar curado de lembranças e cenas que não querem se apagar...nem sequer ligo o drama, e lá está ele...inexorável, mudo, enlouquecedor como os rodopios de Dom Quixote, contra os seus moinhos de ventos inexistentes...
“A tudo lhe será devolvido no momento exato”...uma verdade ilusória...ter um coração contrito e crédulo nada garante...(e a mim nada garantiu – mas a visão pode ser quiçá mudada)...a não ser essa sensação de beirar uma loucura que nunca pensei em presenciar...e cujos grilhões me amarram a desvios e dislexias que bailam...
Mas, cerca-me um orgulho tamanho, que torna o meu conceito sobre mim, algo especial...capaz de retirar sorrisos dos meu lábios...
De alguma forma foi o início do fim...e em todas as releituras que faço, detecto que já dizia de forma assombrosa, tudo, sem ao menos perceber...
Era premonição....onde as ruas não tem nome....
(Baseado na música “Where the Streets have no name” – U2).