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Olhar Cego nº 17

 
[Este texto não pertence à Administração. Trata-se de uma colaboração de um Luso-Poeta, que participou de forma anónima no jogo "Olhar Cego". No final, revelaremos a sua identidade. Convidamos os utilizadores a pontuar e a comentar o texto à vontade, como fazem com qualquer outro.]

espectro

a algazarra da multidão pede interação e por um tempo, invisto,
pela dopamina em elevação.
minutos não se excedem em alcançar hora.
prazo de validade que leva-me embora
para um lugar
que o mundo ignora.

lá fico, sendo eu sem
ser centro de estudo.
o universo que me toma, não é mudo, mas tem a medida certa para me absorver ou dissolver.
espectro autista que nunca se eleva,
não adoece-me,
somente me leva,
... e fico bem.

 
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Luso-Poemas
 
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Enviado por Tópico
Alemtagus
Publicado: 22/09/2024 16:45  Atualizado: 22/09/2024 16:45
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Mensagens: 3407
 Re: Olhar Cego nº 17
Parece Rap se for lido todo de seguida, numa leitura mais lenta e pausada perde sentido e cor. O facto de ter versos demasiados longos, leva o leitor a repeti-los para ver se nada escapou e depois... depois é provavelmente uma questão minha. Na minha opinião é um erro gramatical grave aplicar assim o pronome átono:

que leva-me/não adoece-me

É estranho e torna-se desequilibrado quando, em contraponto, vamos lendo, correctamente:

para me absorver/nunca se eleva/que me toma

Enviado por Tópico
MariaMorena
Publicado: 22/09/2024 21:33  Atualizado: 22/09/2024 21:33
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 Re: Olhar Cego nº 17
.


…espectro…( pode haver um engano ao ler a palavra sozinha e nesse caso machuca, mas se não percebe no início do poema pode ser corrigido no fim)

…a algazarra da multidão pede interação e por um tempo, invisto…( o poema todo estava em letra minúscula e também entra ou está nesta multidão)

…para um lugar
que o mundo ignora…( esse lugar que é ignorado pelo mundo e que sempre foi importante)

…lá fico, sendo eu sem
ser centro de estudo….( longe dos olhos que caça)

…espectro autista que nunca se eleva,
não adoece-me,
somente me leva,
... e fico bem….( aqui eu não sei quem é quem e penso que é a intenção do autor )

Enviado por Tópico
Benjamin Pó
Publicado: 23/09/2024 21:37  Atualizado: 23/09/2024 21:40
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Mensagens: 588
 Re: Olhar Cego nº 17
.
Este é um dos meus poemas preferidos até ao momento nesta iniciativa.

Acho, à partida, muito inteligente o aproveitamento da dualidade de interpretação da palavra "espectro" -- fantasma ou elementos considerados num continuum.

Por um lado, o "eu" deixa-se "absorver ou dissolver" pelo "universo", e nessa dissolução encontra alguma serenidade e bem-estar ("fica bem", numa confirmação da "dopamina" da primeira estrofe).

Por outro lado, sente-se aqui a negação de um centro definitivo ou de algo que "se eleva", havendo a sensação de uma via contínua que leva o sujeito para um "mundo" que "ignora".

O autismo -- enquanto espectro caracterizado por dificuldade na interação social, falhas na comunicação, obsessão por certos temas, repetição de comportamentos... -- pode constituir uma boa metáfora para as causas dessa sensação de desfasamento sereno da realidade concreta e a deambulação por outras formas de existência, como acontece com a poética.

(Quanto à colocação dos pronomes átonos, apesar de saber que a norma brasileira da língua tem certas liberdades sintáticas, concordo com o Alemtagus: parece-me que o poema ganharia com a aproximação à norma europeia)