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Olhar Cego nº 16

 
[Este texto não pertence à Administração. Trata-se de uma colaboração de um Luso-Poeta, que participou de forma anónima no jogo "Olhar Cego". No final, revelaremos a sua identidade. Convidamos os utilizadores a pontuar e a comentar o texto à vontade, como fazem com qualquer outro.]

sutura esquecida

ao entreabrir a janela
senti a brisa desfraldando
as asas duma mariposa amarela

era sonho!
um jardim de malvas

e ao acordar agigantou-se
pronta a melancolia,
mais outro dia,
jogo de memórias salvas.

na rua tantos seres, tanto mundo vivo
meu rosto junto ao vidro, cativo.

cala-se agora o vento
e o silêncio me devora
na imobilidade, deixo que ele seja lei no pensamento,
olho o horizonte nebuloso
é a morte, é a vida, já nem eu sei,
ouço os gritos da chuva nos vidros
que aos meus ouvidos,
são como latidos.

sinto no âmago o frio deste dia
- o sonho da mariposa amarela
ainda em mim a melancolia,
eu pegada na janela
na fronteira, morte e vida,
ferida, com sutura esquecida.

 
Autor
Luso-Poemas
 
Texto
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Enviado por Tópico
Beatrix
Publicado: 21/09/2024 19:25  Atualizado: 21/09/2024 19:25
Da casa!
Usuário desde: 23/05/2024
Localidade:
Mensagens: 263
 Re: Olhar Cego nº 16
-
Ao ler este poema, senti o mesmo que com outro anterior que é a fluidez do texto. Lê-se o poema e nada está fora do sítio. Acho curiosa esta forma de escrita tão certeira e certa, suficientemente abstrata e subjetiva para a poesia, mas corrente, próximo, íntimo, conhecido. Como se já o conhecesse e ficasse feliz por voltar a rever.

Beatrix

Enviado por Tópico
Alemtagus
Publicado: 21/09/2024 19:36  Atualizado: 21/09/2024 19:36
Membro de honra
Usuário desde: 24/12/2006
Localidade: Montemor-o-Novo
Mensagens: 3281
 Re: Olhar Cego nº 16
Um texto onde o caos vigora e onde o negativo se faz chão, imperceptível na sua estrutura. Traz, a meio, algumas imagens que não são exploradas

e o silêncio me devora

ouço os gritos da chuva nos vidros

Enviado por Tópico
MariaMorena
Publicado: 21/09/2024 23:01  Atualizado: 21/09/2024 23:01
Da casa!
Usuário desde: 07/06/2024
Localidade:
Mensagens: 291
 Re: Olhar Cego nº 16
.


…sutura esquecida…(parece que o resumo e a chave para entender novamente está no título, sendo assim cuidando de uma ferida)

É complicado eu tecer um comentário, é um poema meio depressivo e cada um vai ler a mensagem que está em seu coração, no meu caso a mariposa amarela ( veja o sol) me convida a sair da janela

Enviado por Tópico
Alpha
Publicado: 22/09/2024 17:48  Atualizado: 22/09/2024 17:48
Membro de honra
Usuário desde: 14/04/2015
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Mensagens: 2030
 Re: Olhar Cego nº 16
Sutura esquecida

Na carne, a linha se esgarça
Costura de um tempo perdido
Sutura que ao vento disfarça
O grito calado, e ferido!

A sutura, silenciosa, dorme sob a pele como um rio oculto. Esquecida pelo toque, pela memória, tornou-se parte da paisagem do corpo, um desenho invisível aos olhos, mas vivo no silêncio das fibras. No passado, talvez linha tensa, conectando margens abertas, unindo o que estava à deriva. Agora, repousa como um segredo que o tempo engoliu!

Alpha

Enviado por Tópico
Benjamin Pó
Publicado: 23/09/2024 15:43  Atualizado: 23/09/2024 15:44
Administrador
Usuário desde: 02/10/2021
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Mensagens: 530
 Re: Olhar Cego nº 16
.
A barreira dos vidros aparece aqui como metáfora de uma prisão que deixa entrever um mundo de liberdade e felicidade. Como a mariposa, voamos contra o vidro, aflitos e angustiados, magoando-nos uma e outra vez com o choque, confusos com esse limite quase invisível.
E a propósito de mariposas: