Poemas : 

Olhar Cego nº 13

 
[Este texto não pertence à Administração. Trata-se de uma colaboração de um Luso-Poeta, que participou de forma anónima no jogo "Olhar Cego". No final, revelaremos a sua identidade. Convidamos os utilizadores a pontuar e a comentar o texto à vontade, como fazem com qualquer outro.]

Poema inútil

hoje sou uma folha transviada
num espelho de águas
neste poema onde as palavras
se apagaram da memória,
restam as mágoas.

este é um poema torpe e inútil
para encerrar a vida com alguma
lucidez,
virá a desmemória tudo se apagará de vez
entre o sol e um voo
até ao obscuro.

contarei as rugas novas
continuarei a viver?
sei que é duro!
e com lucidez interrogo-me
serão minha última derrota?
talvez a amargura se vá fundindo
e eu resistindo.

tenho a certeza de ter vivido
escrevo este poema, meu universo
pode não fazer sentido,
na minha insanidade é verso
mais um verso

confuso meu rosto desolado
lembra quando a vida ardia,
hoje derrubado,
- resiste a mais um dia.

 
Autor
Luso-Poemas
 
Texto
Data
Leituras
232
Favoritos
1
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
17 pontos
5
2
1
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
Alemtagus
Publicado: 20/09/2024 16:40  Atualizado: 20/09/2024 16:40
Membro de honra
Usuário desde: 24/12/2006
Localidade: Montemor-o-Novo
Mensagens: 3407
 Re: Olhar Cego nº 13
pode não fazer sentido

Realmente não faz.
Tentei encontrar uma linha de pensamento que trouxesse uma alma nova ao texto, mas mesmo com três ou quatro leituras não consegui. Não há poemas inúteis. Maus sim, mas não inúteis.
No entanto - e talvez aí se encontre uma alma - há a imagem do envelhecer, do velho que se julga lúcido, é um universo à parte.

Enviado por Tópico
MariaMorena
Publicado: 20/09/2024 16:47  Atualizado: 20/09/2024 16:47
Colaborador
Usuário desde: 07/06/2024
Localidade: Argumentar sem agredir é ser grande.
Mensagens: 624
 Re: Olhar Cego nº 13
.


…Poema inútil…( já gostei pelo título e por isso já foi útil, adoro sementes, palavras que vence a minha inércia)

…folha transviada…( se quem lhe trouxe foi o acaso então ele é perfeito)

…espelho de águas…( aqui é engraçado ou não deveria ser, mas se você é um papel e observa no espelho a água, talvez não seja essa a intenção do autor.

…restam as mágoas…( aqui deveria ser o contrário e ir para o abraços)

…torpe e inútil…( penso que tudo que vem de nós é útil e esperar chegar no outro que é decepção)


Esses versos são chocantes, mas espero que seja a fênix, o renascer das cinzas, a fé inabalável sobre nós.

…vá fundindo…( espero que vá em busca da beleza e veja o quanto é tolo)


Esse poema é excelente, e se for de quem estou pensando é um bom presente, já que surpresa não é.

Enviado por Tópico
Benjamin Pó
Publicado: 20/09/2024 20:46  Atualizado: 21/09/2024 10:36
Administrador
Usuário desde: 02/10/2021
Localidade:
Mensagens: 588
 Re: Olhar Cego nº 13
.
É célebre o prefácio de "O retrato de Dorian Gray", de Oscar Wilde, que termina desta forma:
"Quando os críticos divergem, o artista está em consonância consigo próprio.
Podemos perdoar um homem que faça uma coisa útil desde que não a admire. A única desculpa para fazer uma coisa inútil é ser objeto de intensa admiração.
Toda a arte é perfeitamente inútil."


Com arte útil, na minha interpretação, Oscar Wilde referir-se-ia à arte colocada ao serviço de algo: ideologias, vaidades, prestígio etc. Desse ponto de vista, uma arte unicamente funcional esvazia-se de significado, pois esgota-se num objetivo exterior à sua natureza.

Quanto a um verdadeiro poema, por mais singelo e transparente que seja, desde que corresponda à "consonância [do poeta] consigo próprio", ganha dignidade, merece "intensa admiração", mesmo que não acrescente nada ao cânone literário.

Obviamente que um apaixonado de poesia não conseguirá viver sem ela, mas esse, a meu ver, não é o ponto do poema 13º de "Olhar Cego".
O que encontrei aqui foi uma reflexão sobre como a fragilidade da vida e a fragilidade da arte se interligam, numa indagação amarga do eu poético sobre a experiência humana, de que a queda e a resistência talvez sejam as marcas mais impressionantes e inspiradoras.

Enviado por Tópico
Alpha
Publicado: 21/09/2024 11:22  Atualizado: 21/09/2024 11:25
Membro de honra
Usuário desde: 14/04/2015
Localidade:
Mensagens: 2063
 Re: Olhar Cego nº 13
Poema inútil

Poema inútil que ao nada alude
Palavras dispersas suaves perdidas
Versos que ao vento se vão sem virtude
Nas rimas fugazes, de sendas esquecidas!

Poema inútil é apenas um murmúrio suave ecoando em seu deserto. Cada verso, ainda que belo, parece escapar de si mesmo. No entanto, há uma estranha beleza nessa ausência de sentido, como se o próprio ato de existir fosse já o bastante. E há tanta coisa que só o tempo lhe dá razão...


Alpha

Enviado por Tópico
Beatrix
Publicado: 21/09/2024 19:15  Atualizado: 21/09/2024 19:15
Da casa!
Usuário desde: 23/05/2024
Localidade:
Mensagens: 337
 Re: Olhar Cego nº 13
-
Gosto especialmente da forma como o poema flui na leitura. Cada palavra, cada verso parece estar no seu sítio.

Bonito e harmonioso! Gostei de ler e a estrutura é interessante.

Beatrix