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Olhar Cego nº 09

 
[Este texto não pertence à Administração. Trata-se de uma colaboração de um Luso-Poeta, que participou de forma anónima no jogo "Olhar Cego". No final, revelaremos a sua identidade. Convidamos os utilizadores a pontuar e a comentar o texto à vontade, como fazem com qualquer outro.]

Psicodélico

Explosão de cores vivas
Esvazie sua mente sã e apreensiva
O renuncio a todos os pensamentos
Deixados a navegar rio abaixo.

Miragem na parede, nada esta lá
Distúrbio num plano curvo,
Contornos indefinidos no espelho turvo
Pedras atiradas ao lago distorcem o tom do reflexo
Nada é imutável do simples ao complexo.

Segue o vento além das colinas no fluxo das ilusões
Voo alto rasante, até o pico das sensações
Escapa o grito, expande o eco ressoante
Atingindo superfícies de faces pálidas, aflitas
Trazendo-lhes conforto saciante.

Salto em confusão corpo caindo
Na direção do mar vítreo
Sobre os reflexos do sol de aço
Tente suportar o calor desse abraço.

Liberdade completa do pensamento a ação
Valores não compreendidos, desconhecidos
Traçados em linhas de poemas líricos, desinibidos
Adornados no contornos de um rosto angélico,
Ritmado ao gosto de um som psicodélico.

 
Autor
Luso-Poemas
 
Texto
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Enviado por Tópico
Alemtagus
Publicado: 18/09/2024 16:40  Atualizado: 18/09/2024 16:40
Membro de honra
Usuário desde: 24/12/2006
Localidade: Montemor-o-Novo
Mensagens: 3281
 Re: Olhar Cego nº 09
A grafia do título denuncia, o que não é obviamente um problema, qual a margem atlântica de onde partiu este escrito, vindo, por ventos e marés, a naufragar neste Portugal que de todos se faz. Em Portugal será Psicadélico.

O Texto

Tendo lido todos, até agora, editados, este pareceu-me um resumo dos anteriores, talvez até lhe chamasse o Frankenstein do 01 ao 08. Não que seja essa a ideia pretendida pelo autor, mas mesmo que fosse. Se o é devo aqui deixar a minha vénia porquanto revela capacidade de síntese e óbvia leitura atenta.
Mas, neste meu olhar cego, sublinho um pormenor, um pequeno detalhe, que é o acentuar do contraditório, já visto em anteriores e que é uma das formas de escrita poética mais usada.

O Big Bang que ressoa na primeira estrofe desfaz-se quase subitamente, o óbvio da miragem que não existe, o plano curvo... quase vi aqui o Busão de Higgs.
A confusão que se segue, a dos sentidos e da leitura, que transforma a matéria e a anti-matéria em nada mais que um verso, o Voo alto rasante que nos faz sentir estar dentro do espelho, tudo invertido.

E depois há aqui duas coisas que não encaixam, a meu ver, no contexto poético do texto...a liberdade e o rosto angélico. A primeira nunca se atinge na sua plenitude, uma utopia, o segundo é transcendental. Este texto não é livre (é uma caixa fechada), nem santo (tem mais de purgatório).

Enviado por Tópico
Beatrix
Publicado: 18/09/2024 17:16  Atualizado: 18/09/2024 17:25
Da casa!
Usuário desde: 23/05/2024
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 Re: Olhar Cego nº 09
-
Entendo que o título está muito bem adequado ao texto. Que vai além do psicadélico, tendo de se colocar ali um elemento psico, muito relevante. E também o início indicia o que aí vem: explosão.

Beatrix

Enviado por Tópico
Alpha
Publicado: 18/09/2024 17:52  Atualizado: 18/09/2024 17:52
Membro de honra
Usuário desde: 14/04/2015
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 Re: Olhar Cego nº 09
Psicodélico

Perceções distorcidas, o tempo a correr
As cores cantam melodias ao vento
No caos ordenado, tentando entender
O psicodélico é o sonho em movimento!

O mundo psicodélico é um portal onde as fronteiras entre o real e o imaginário se dissolvem. Nele, as cores ganham vida própria, dançando em padrões impossíveis, e os sons parecem palpáveis, quase podendo ser tocados.
Alpha

Enviado por Tópico
MariaMorena
Publicado: 18/09/2024 18:13  Atualizado: 18/09/2024 18:17
Da casa!
Usuário desde: 07/06/2024
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Mensagens: 291
 Re: Olhar Cego nº 09
.


Esse poema é indescritível,( uma viagem sem saber qual é o chão do próximo passo)

Sã e apreensiva ( parece que não combina, tudo bem é cíclico)

Esse “…renuncio…” é ótimo as vezes eu ouço um louco dizendo palavras e por esperar pouco é esplêndido ( estranho, acho que ler esse poema tem efeito psicodélico)

Algumas palavras tem todo o seu ativo, gás carbônico com oxigênio, é como olhar as nuvens e encontrar o azul do céu.

Valeu pela viagem.

Enviado por Tópico
Benjamin Pó
Publicado: 18/09/2024 18:29  Atualizado: 18/09/2024 18:47
Administrador
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Mensagens: 530
 Re: Olhar Cego nº 09
.
Alguns apontamentos de influências da Antiguidade Clássica que vejo neste poema:

- Psicodélico ou psicadélico provém de duas palavras gregas: psykhé (mente, alma) e delóo (mostrar, revelar). No poema ecoam muitas destas ideias. A segunda parte da palavra lembra a ilha de Delos, berço de Apolo, deus da poesia e da música.

- "Nada é imutável do simples ao complexo" -- sugere a dóxa de Parménides, a via da opinião, da multiplicidade e da mutabilidade. É um bom ponto de partida para a segunda parte do poema, que fala de ilusões.

- "Voo alto rasante, até o pico das sensações" e "Salto em confusão corpo caindo na direção do mar vítreo sobre os reflexos do sol de aço" -- remete para o mito de Ícaro e para as ideias de libertação, risco e condenação (no "rosto angélico" que referiu o Alemtagus vejo também algo do mito de Lúcifer, que tem pontos de contacto com Ícaro).

Enviado por Tópico
rosafogo
Publicado: 18/09/2024 19:27  Atualizado: 18/09/2024 19:27
Usuário desde: 28/07/2009
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Mensagens: 10677
 Re: Olhar Cego nº 09
«Explosão de cores vivas»
«Voo alto rasante, até o pico das sensações»
«Contornos indefinidos no espelho turvo»

não vou comentar o Poema, pois nem sei por onde começaria, porém estes três versos, trouxeram-me à lembrança dois episódios de terror, que vivi recentemente, no 1º durante quase três horas, e no segundo cerca de meia hora a que o médico chamou de visão caleidoscópica.O olho esquerdo fechado trazia-me humanoides da altura do quarto vestidos de branco que se atiravam sobre mim em todas as posições, rapidamente mudava tudo para paredes de azulejos de cores berrantes e brilhantes a deslocarem-se a toda a velocidade, de seguida bandos de pássaros castanhos numa velocidade incrível, logo depois silvas com espinhos enormes directamente para cima de mim, não dá para descrever a velocidade das coisas nem o terror provocado, a segunda vez um pouco mais leve, a preto e branco, cabelos voando em todas as direções ficando mais grossos de quando em quando arremessados à minha cara Aguardo fazer exame, estou muito amedrontada pois pensava que ia enlouquecer, não desejo a ninguém, foi um trauma, talvez o pior vivido até hoje... estou sempre preocupada com a chegada da noite, pois acontece quando me vou deitar. Tudo se passa comigo bem acordada, levantando-me muitas vezes, para estar de olhos abertos, não é sonho.
Peço desculpa e desejo-vos uma boa noite.