olhai o homem que lavra seu campo
subjugado pela terra
sua míngua
sua angústia de lama
olhai como lavra
olhai o homem que pensa
usurpado da liberdade
sua constância imensa
sua verdade
olhai como pensa
olhai o homem que constrói
o que outro derruba
sua tristeza
que lhe dói e perturba
olhai como constrói
olhai o homem do seu tempo
como desespera
seu direito a acreditar
sua longa espera
olhai o homem
olhai o homem que ama
olhai à vossa volta
se conheceis algum assim
mas olhai por fim
in: «Os poemas não se servem frios» 2010