Poemas : 

Na boca de cena

 
Na plateia.
Endeusados, os olhos.
Esbugalhados.
Bocas desmanchadas.
Rasgadas como aves esvoaçadas.



Na boca de cena.
Há uma mulher.


De boca graúda.
Toda por inteiro.
Pintada.
Da carne em sopro.

Rasga o momento.
Com palavras curtas.
E com silêncio
em largura.

Luas e sóis.
Iluminam as máscaras.
Miradouros.
De prosa e de poemas.

Com os dedos nas ancas.
Meretriz de alpendre.
De ser o mundo todo
e de não ser o mundo
de ninguém.

Teatral.
Conta e canta.
Espinhos e levantes.
Pecados e vaidades.


Flores com cores varadas.
Plumas e ramos do tempo.
Saem das arcas platinadas.

Taças de licor.
Boquilhas.
Cigarrilha de ponta avermelhada.
São vícios de vanguarda.

Com o trejeito da boca.
Cai a lágrima alada.
É a inocência.
De pessoa em liberdade.

Com as brumas do flabelo.
Tece um voto a Apolónia.
Com a metáfora.
Ateia-se-lhe o corpo.
Acende-se como magnólia.

Na boca de cena.
Há sede da seda.
Da palavra.
Sedenta e sedosa.
Sem segredo.
Com ilusão fugosa.



Zita Viegas















 
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atizviegas68
 
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Enviado por Tópico
Benjamin Pó
Publicado: 15/09/2024 14:05  Atualizado: 15/09/2024 14:05
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 Re: Na boca de cena p/ atizviegas68
.
O teatro enquanto alegoria da vida.
Tantos momentos deliciosos neste texto. Destaco:
"Rasga o momento (...) com silêncio em largura"
"as máscaras. Miradouros. De prosa e de poemas."
"De ser o mundo todo e de não ser o mundo de ninguém."