Belém, 28 de janeiro de 2024.
Amado meu,
Passados e pesados anos de um amor morto, que ressuscita a cada cisão do meu ser, eu venho dar-te mais uma vez adeus.
Vês essas mãos já sulcadas? Cansaram de adular-te em preces e afagos. O olhar cego, a girar na orbita da tua aura, sol sem luz nem calor, já há muito perdido da minha direção.
Despeço-me da loucura dessa vida de esperanças e perdas diárias. Do dia após outro... Longas voltas por dentro das saudades. Do que eu fui e me tornei nesse seguir-te ao vento das vontades.
Quero-me longe. Lugar protegido de qualquer ponto onde possas me achar; dentro ou fora da tua mente, esse totem de inconstâncias, a honrar um tempo ido, na entrada da oca vazia que me tornei.
Não sei o que se faz dentro de mim. Esse desejo de estar sempre a despedir-me. Como se não fosse cada instante dessa vida uma despedida. Talvez meu desejo de ir encontro ao desconhecido, seja menor que a coragem do conforto desse cais.
Assim, eu passo várias vezes do meu dia, a olhar do alto do meu aquário particular, o rio Guamá, as ilhas...o movimento das águas, chuvas e embarcações. E a cada pôr do sol pintado sobre toda essa paisagem sempre tão diferente, eu acabo deixando para além da vontade o derradeiro adeus...
Beijos,
Betha Mendonça