Comprei um ananás sem rama
Numa loja de conveniência
Tinha agarrado uma jovem dama
Vestida de doce maledicência
Perguntou-me se era de mente aberta
Disponível pra novas sensações
Ao que respondi: bateu na porta certa
Bora lá que já sou todo comichões
Chegados à sua casa de prazeres
Dei por mim entre vários comensais
Todos eles entretidos em afazeres:
Uns lendo livros e outros jornais
Perguntei: foi para isto o convite?
Vinha preparado pra outro sarrabulho
Já perdi toda a vontade e apetite
Esperava outra farra, outro barulho
A dama olhou-me com ar surpreendido
Com algo de mau prestes a vir à tona
Aquilo era um clube de leitura concorrido
Eu, um parolo às compras no Mercadona
Cheguei a casa, todo eu era frustração
Com sacos cheios e olhos esbugalhados
Em vez de doce ananás um enorme melão
Jurei nunca mais acreditar em achados
Ir na cantiga da solteira em promoção
E ananáses invertdos e depenados
José Ilídio Torres
30-08-2024