Um papel que rolava pelo chão
Tocou os meus pés e pôs na minha mão
Uma receita de bolo fascista
Com ingredientes a perder de vista:
Uma xícara de falta de educação crítica,
Um copo de pouca percepção política,
De pouca percepção da realidade,
Uma pitada de não busque a verdade,
Uma xícara de falta de voz que não esteja a serviço do ouro,
Uma xícara de cultivo da dissimulação para tirar o couro,
Uma xícara de excesso de manipulação,
De cinismo, de hipocrisia, de alienação;
Uma xícara de notícias falsas para encharcar a massa,
Uma xícara de racismo dissimulado na fumaça,
Uma xícara de negação do papel do negro
Na formação dessa caixa de segredos,
Uma xícara de cultivo do espírito escravocrata,
Um espírito de porco – pirata, picareta, autocrata...
Uma pitada de desumanização do preto e do pobre,
Uma xícara de avaliação da vida baseada no cobre,
Uma xícara de jogue no lixo a ética social,
Uma xícara de vale tudo pelo bem material,
Uma xícara de desigualdade em contínua expansão,
Uma xícara de financistas com o mundo nas mãos,
Uma xícara de demonização da política,
Que põe a nave na direção paleolítica,
Uma xícara de negação das atrocidades da ditadura militar,
Uma xícara de qualquer coisa que me faça vomitar,
Uma xícara recheada de “condena com apoio da antena
Pras águas do rio sem fim fluir sem problema”,
Uma xícara de “joga os não alinhados na lama”,
Foda-se a inocência e a dignidade humana.
Para que os confeiteiros possam pôr a mão na massa
Basta uma cortina de fumaça
Espalhada ao gosto dos que mandam na praça.