Eram ventos de mares distantes,
Velas brancas o horizonte a cortar,
Na terra que já pulsava em cores,
Chegaram os passos pesados, explorar.
Os rios cantavam segredos antigos,
As florestas guardavam espíritos vivos,
Mas os olhos que vinham de longe
Não viam a alma, só o ouro, dos nativos.
Desceram com cruzes e espadas,
A língua afiada, numa estranha canção,
Desfiaram em sangue a história contada,
Negaram à terra sua própria oração.
E o que era vida, dança e memória,
Virou poeira sob a marcha do aço,
Esqueceram que em cada rosto pintado,
Havia um mundo, um sonho, um singelo traço.
Mas a terra guarda seus sussurros,
Nas veias do tempo, nas pedras, no chão,
E quem sabe, um dia, as vozes caladas
Ressurjam mais fortes em renovação.
No silêncio imposto, brota a resistência,
Nas sombras da história, a verdade persiste,
Pois o espírito da terra é antigo, é eterno,
E em cada grão de areia, a lembrança resiste.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense
Obs. Este poema tenta refletir sobre a chegada dos europeus na América, o impacto da conquista e a resistência silenciosa, mas duradoura, das culturas nativas.