Adormecer neste silêncio
de árvores e pardais
agora que recolheste à terra
inteira como uma águia real.
Agora,
as horas têm sede
da água do teu olhar
bebo a secura das fontes proveitosas e abundantes
corro os dias iguais
inventando todas as manhãs
a história que tomarei como um autocarro
invento as tuas formas
num esboço preliminar para que tudo dê correto
na solene hipótese que a tua ausência não se descubra
não ver a meio da jornada
as palmas das mãos sem as linhas da vida
e o bolso do casaco vazio da segurança de um segundo conto
nem sequer um poema curto de emergência
uns versos
contendo algumas metáforas
sobre o preenchimento do abismo.