Tudo nosso passou a ser só pra eles
Até a identidade nos está sendo roubada pelos mundeles
Como se o mundo fosse deles
Negros pescados na terra e jogados no mar
Já 500 anos de opressão
-'Somos todos irmãos'
Mas sabemos que ainda somos escravos
Temos de reconquistar nossa soberania
Esta não é terra do colono
Esta terra é toda tua e minha.
Faremos tudo por Ngola yetu
A nação que temos no peito
Faremos por nossos irmãos
Presos por pensarem na gente
Faremos por nós
Sem oportunidades e com a liberdade ao avesso
Com a cor da pele transformada em passaporte para desgraça
Grito de guerra dos guerrilheiros
É 4 de fevereiro, 1961
Partimos às centenas, destemidos
Marchamos como se dentre nós a bala não fosse matar nenhum.
Mas nossas armas não são como a nossa causa
são fracas, de lata
A polícia colonial em prontidão por nossa causa
-''se avançarem, mata''
-'Cortejei mais um'
Eles disparam contra nós com sangue frio
-'Levanta kamba dyami'
-'Recuar, recuar'
Estamos correndo dispersos
Com os corações descalços
Num solo banhado com o sangue dos nossos
Deles só alguns. Haiuéé...
Nós fomos Poucos
Passados dias, eles estão praticamente caçando todos
Vou perder mais quantos?!!!
-Meu útero um dia deu a luz
Más eles mataram o fruto do meu ventre
Nada pior para uma mãe do que enterrar seu filho
Com que forças cavarei um túmulo para ele?
-Mal desfrutei do meu querido
O que fiz eu pra ser dada em casamento
Mas dormir todas as noites com o luto deitado em meu peito?
-Tenho mais irmãos
Mas cada um tem o seu lugar
Como vou viver sem este?
Meu mano mais velho, meu mestre
-Meu pai era um bom homem
Estava na linha da frente
Morreu por sua gente
Não vou chorar como quem perdeu
A luta continua
A victória é certa
1975
É grande a alegria que sinto
O governo colono entregou a terra pra o dono
Estamos proclamando, perante Angola e o mundo, a nossa independência
Há quem se lembre das datas passadas com alegria
"Saudemos! tombaram pela nossa independência"
Mas eu ainda me lembro delas com o coração em agonia
Meu amigo caindo
Meu irmão morrendo
Tínhamos caminhado para o fuzilamento
Hoje em paz, independente
Me pergunto sempre
Se não tivéssemos lutado haveria independência?
Eu não sei
Talvez mais tarde
São poucas as victórias que se podem alcançar sem lutas
são poucas as lutas que se podem travar sem perdas
Quantas causas valem uma vida?
Eu também não sei
Mas meu filho, minha irmã e meu amigo
Eu não mandaria pra guerra outra vez.