Enquanto um violino chorava lentas melodias
Assim vergastado pela crina do arco domado
As cordas esticadas por finos dedos maestros
Em dor harmoniosa que me embalava os dias
Eu escrevia-o num vago olhar vazio e pautado
E dançava-lhe valsas e polkas de tons sinistros
A sensualidade da harpa dedilhada por musas
Contraiu-se no beijo apaixonado dos amantes
Entre seus doces e noturnos abraços fecundos
Um delírio divino escorrido de orgias confusas
Entregou-se a uns gritos melados e ofegantes
Nesse prazer conjunto dos nossos dois mundos
Aquela percussão ritmada do bater dos corações
A acelerar toque a toque entre carícias e desejos
De mãos laçadas como as fatalidades do destino
Fervilhava nas veias com o sabor de tais canções
Espaços ainda mais curtos tinham novos ensejos
Tanto amor maior que amor trazido em desatino
O arfar pesado da tuba escondia-se naquele gosto
No sentir aliviado de abrir os olhos e ver a beleza
Que também o dia acordado era real e não sonho
E que desse sol que a lua acordava em doce gesto
Brilhava no peito um delicado som de tal certeza
Ter também no dia de amanhã um olhar risonho
A Poesia é o Bálsamo Harmonioso da Alma