Eclipse do Sal
nesse dia
o mar
emagrecia
as pálpebras
de maresia
antes de chegares.
nesse dia
depois de chegares
diante
do teu
olhar
amaciador,
um outro mar
engordou
este olhar
peregrino
do teu brilho.
nesse dia
o azul
ocupou
a cor da esperança
e a primavera
mergulhou
na vista despida.
depois da tua partida
só nasceram
flores no oceano.
nesse outro dia
depois de não voltares,
todos os espelhos
escorreram
as cores .
nesse dia
o luto encheu o céu
e o dia caiu,
adormecendo
no colo do meu chão,
as suas mãos
suplicando
um perdão
tão terreno…
tão desumano …
O meu Trovoadas
facilmente descosturava
as bainhas dos lábios
com um sorriso
altamente
contagioso.
se prendia
facilmente
às palavras
bondosas
inaudíveis
das gentes .
um dos melhores
emocionistas da sua geração
roubava as melhores emoções
dos corações dos homens
num piscar de vista.
chamavam-lhe o Trovoadas,
uma boa alcunha
para quem chegava
e revolucionava
os humores
dos lugares.
ao seu lado
éramos especiais,
fazia questão
de não rotinar
a comunhão dos dias,
garimpando
o melhor de si
em prol da felicidade
partilhada...
era o Trovoadas
no bom sentido
da palavra.
Nenhuma luz se perde no escuro
na terra,
as estrelas caídas
são recolhidas
precocemente
para iluminarem
os caminhos
dos deuses.
às vezes
anoitecido,
te procuro
nesse escuro
infindável da noite
e te descubro,
não pelo teu brilho,
mas pelo arrepio no peito,
como se chegasses
em forma de brisa,
perfumando
um sentimento
de brandura e de alento.
sei que depois desta vida,
mataremos a saudade
após três voltas de chave.
independente da porta do sol,
sei que voltarei a brilhar ao teu lado,
nem que seja como astro menor,
como no passado.
“Acredito que o céu pode ser realidade, mas levarei flores para o pai - Erotides ”