Quero encontrar sangue no meu álcool
Quero encontrar o mangue nesse mar
Quero encontrar o sagrado nesse altar
Quero encontrar a África em Gibraltar
Ainda que pareça ser tudo óbvio
Vou buscar motivos para ficar sóbrio
Não sou mago de inventar felicidade
O vinho é seco, doce, ou amargo
Bebo hoje. Prazer de beber, vaidade
O vinho tem um cheiro perfumado
Vinho simples, logo sagrado, amado
Que não me destrói, e me reconstrói.
Apenas vinho, enfim, mundo sem fim
Felicidade em tudo, e o destino mudo
Significado? Mandala, desobediência!
Eu vivo sem nexo, minha existência.
A roda da fortuna esta gasta, e farta
A perna perdida nas pedras, na lama,
Todos os baixos da vida estão no alto
Todos os altos perdidos no caminho.
Por tudo que é acerto. Peço clemência.
Por tudo que é errado. Tanta exigência.
Por tudo que é incerto. E sem decência.
Salvo dos prantos, completa demência.
Cordas atrasam o relógio. Forca é tola
O tempo busca o passado, nesse fado
Eu carrego o cansaço em eterno fardo
Dê-me, por tudo, enfim, nada de mim.
Souza Cruz