Poemas : 

CAMINHADA DE NATAL

 
 
Minha rua tem muita merda de cachorro
Alimentando baratas gordas e sadias
Ambos passeiam nas noites quentes
Em meio ao lixo revirado por famílias

A riqueza é soberba e ilhada da maré
Miséria visita às terças, quintas, domingos
Doações inusitadas da caridade urbana
Causando lentidão ao trabalho dos garis

Pinos na sarjeta vigiando carros de luxo
Vigilantes guardam o privado e o público
As cabeças doem, as barrigas roncam
A dieta e o delivery, fraqueza e fome

Um carrinho de bebê na festa infantil
No bar os bêbados aguardam Caronte
Nada posso fazer na minha caminhada
Onde até a esperança ruma para a morte

Assim é a cidade e assim somos nós
Nossa solidariedade comiserada e finita
Seguros por trás de câmeras e muros
Guardados do destino que nos abraça

O manto da guerra protege o "sono dos justos"
Entrecortado pela dor das ambulâncias
Em meio ao medo e grito das viaturas
Ao olhar insone dos passageiros da madrugada

Acordamos pelo chicote dos alarmes
Tangidos à rua, lotadas de cheiros, odores
Amores impossíveis para os românticos
Música aos solitários, e a fome de tudo.

Meio milhão, apartamento com garagem
Logo em frente a uma casa de papelão
Onde mora uma família com três filhos
Inferno em vida aos herdeiros do reino

 
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souzacruz
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