No tormento do dia-a-dia, o amor se faz presente,
Nem sagrado, nem profano, mas desejo real, ardente
Nada de contos de fadas ou de gestos ensaiados,
As mãos se entrelaçam entre os olhares velados
Longe do ideal e planejado, sempre incoerente.
Nos medos, erros, dúvidas, segue vivo, semente
Desencontro e desatino, sentimento acobertado
O que é verdadeiro também pode ser quebrado
A lágrima compartilhada, o riso no sol e chuva
No abraço apertado, cama quente e vista turva
Na refeição dividida, escuridão em uma vela,
É a imperfeição da vida tecendo retrato na tela.
Distante do paraíso, porém perto do coração,
Nas fraquezas, nas dores, é que se perde a razão
No suor do trabalho, na tristeza e no desespero
O prenúncio do fracasso. Sucesso: raro tempero
Toda a idealização faz-se distante da realidade,
O céu é cinza e desvario, do luxo à simplicidade,
No alento do momento, em que nada é especial
É como o interpretamos, alimento da vida normal.