Na árvore que eu estou,
O valor dos frutos depende do galho em que ele brotou.
Os frutos dos galhos que estão
Beijando o chão, não valem um tostão.
Já os frutos dos galhos de cima
Têm o devido valor em todos os climas.
Os frutos de baixo, os animais podem mordê-los,
Podem apedrejar, espetar, apertá-los em novelos.
Quem se importa com o esmagamento dos frutos de baixo?
Azar deles que nasceram em desprotegido cacho.
Quem se importa se eles morrerem por falta de irrigação
Ou por pedradas disparadas pela tradição?
– Mas se alguém ferir um fruto que está num galho elevado?
– Isso será veementemente condenado.
Não se aceita que alguém meta a mão
Nos frutos que estão em galhos distantes do chão.
Atacar, ferir, apedrejar, jogar no riacho...
Só nos frutos dos galhos de baixo.
– Mas são frutos da mesma árvore!
– Quem quer saber desse mármore.
O que importa é a posição
Que o galho se encontra.
O resto não se leva em conta,
Não passa de disfarce do alçapão.
Os frutos de baixo verdes ou maduros
Podem ser espetados, nem precisa ser no escuro.
O tempo todo frutas verdes são espetadas,
O leite desce manchando a morada.
Mas quem se importa.
Tapa-se o nariz. Fecham-se as portas.
– Se fosse um fruto de um galho de cima?
– Mudaria o clima:
O tempo nublava,
O trovão estrondava,
O vento agitava,
O dia anoitecia sem palavra.
– Mas os frutos vêm da mesma árvore, do mesmo tronco, da mesma terra!
– Quem quer saber, cabeça de cabo de guerra!
Convenção é convenção,
E não tem conversa não.
Toda a sociedade verde deu sinal,
Implicitamente, assinou o contrato social
Determinando que só têm importância os frutos dos galhos de cima.
– Os galhos de baixo também fazem parte dessa sociedade sem ímã!
– Quem quer saber, Zabelê! Você não viu,
Mas o transporte que você procura já partiu.