O galo canta as 9:00 da manhã
O canto domina o cantinho da cidade
perto de uma avenida movimentada
numa capital estadual qualquer
No mundo da mente surge uma roça,
até na cabeça de quem nunca viu.
O canto do galo avisa as galinhas
que hoje é sexta-feira
O galo cantor é malandro
não chega a ser ordeiro.
muito menos desordeiro.
Ele não perde o terreiro.
Vai atrás das galinhas,
sempre foge das rinhas.
Não quer briga com gatos e cães
Quer cantar, atormentando boêmios
O galo urbano canta até MPB.
Sobe nos telhados das casas vizinhas.
Conhece os limites de seu poleiro
Quanto mais alto canta
Quanto mais longe voa
Porém, ecoa, o tilintar das panelas
Avisando que domingo haverá visitas
e o prato será galinha ao molho pardo
— Antes galinha que galo! Será?
Ou fica viúvo ou deixa as viúvas.
O galo canta nesta manhã
porque desconhece o amanhã.
Com o cheiro da galinha de granja,
o menino farto quebra o osso da sorte.
Não pensa no galo ou na morte.
Apenas na forquilha de um estilingue
Acertando alvos de latas de leite,
poemas em prosa voando,
tal qual passarinhos imaginários.
Souza Cruz