Poemas : 

Zélia

 
O escândalo de manhã afligia os cidadãos.
A rapariga morrera durante a noite de fome.
Um cidadão comentou que ninguém morria de fome. Devia ser droga. Ela não regulava da cabeça.
Parece que a câmara levava-a mas regressava sempre. E não procurava um canto. Cobria-se com uma manta e adormecia atravessada no passeio, de modo que as pessoas de manhã tinham de a contornar.
Uma vergonha, é o que era. Havia de se fazer alguma coisa destes miseráveis.
Não faltam soluções, moralizava o dono do restaurante.
A carrinha nunca mais vem,
nervoso, o dono da papelaria, preocupado com a venda das raspadinhas e dos jornais.
Chamava-se Zélia, ouviu-se.
Coitada da desgraçada.
Um ruído de motor e uma travagem de alguém com pressa.
Finalmente, nunca mais vinham, comentou um cidadão, mais aliviado.



 
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gillesdeferre
 
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