AMOR ENGANADO
Na simples fresca sala de fado
Sentados em velhas cadeiras
Ouve-se o fadista ousado
Em poemas que são fogueiras
Arde o artista na emoção
Evocando a vida descuidada
Oferecendo-lhe golpes ao coração
Vindos de sua mulher amada
Ao cantor corre-lhe em pranto
Correntes lagrimas da vida
Todos comovem-se com seu canto
Desse fado de dor vencida
Ao lado do homem sofrido
Há quem o ouve com paixão
Sentem-lhe um amor traído
Deixando-os em consternação
Seu amor está tão longe
Nos lados onde sol vem
Já pensou em ser monge
Mas sua vocação não tem
Nesse fado de fogo infinito
Dum amor não correspondido
O artista solta seu grito
Num soluço bem fugido
O povo na sala se agita
P’la frieza da traição
Ninguém ali mais acredita
Que esta vida conceda perdão
Ela traiu um grande amor
Numa atitude grosseira
Deu ao coração a dor
E um olhar que se incendeia
O fadista cala sua voz
Não mais vai cantar o fado
Vive em sofrimento atroz
Por um amor o ter enganado
E bem antes do sol nascer
A sala ficou triste e vazia
Escravo do amor vai ser
O fadista da nostalgia
De: Fernando Ramos