Poemas -> Introspecção : 

ÀS VEZES

 
 
Às vezes me esqueço de comer
Às vezes só penso em desistir
Às vezes eu me canso de viver
Às vezes quero apenas é sumir.

Às vezes me esqueço de dormir
Às vezes mereço o que padeço
Às vezes desaprendo de sorrir
Às vezes até parece que pereço.

Às vezes meu lamento é alimento
Às vezes desdenho o que conquisto
Às vezes se esvai meu pensamento
Às vezes nem sei porque persisto.

Às vezes minha boca nem disfarça
Às vezes o que sei é sem sentido
Às vezes minha força é uma farsa
Às vezes o que busco até duvido.

Às vezes me invade o sofrimento
E a noite se estende ao infinito
Às vezes a alegria é meu alento
E o dia é pequeno para um grito.

Às vezes eu me esqueço de sair
Às vezes perco a hora de voltar
E o calor do sol me faz sentir.
Que aquece, às vezes, um olhar.

Às vezes me prendo num recinto
Às vezes participo, inconsciente
Às vezes a cidade é um labirinto
Às vezes a alvorada é meu poente.

Às vezes o meu inverno é eterno
Sofre em dia quente, teme o frio
Às vezes o meu paraíso é o inferno
Às vezes minhas lágrimas são rios.

Às vezes a jornada é temporária,
Às vezes a companhia desconheço
Às vezes a chegada, involuntária
Às vezes, na partida, me aborreço.

Às vezes vejo estrelas no caminho,
E, pelas ruas, caminho sem abrigo.
Às vezes, silêncio, estou sozinho,
Os amigos, às vezes, estão comigo.

Quando a dor invadir meu coração
Às vezes só a tristeza me redime
Às vezes o meu erro é a salvação
Às vezes só a fraqueza me define.

Às vezes a metade é sem inteiro
Na falta, não pode ser comprado
Às vezes o que falta é o dinheiro
Resta o desejo, jamais é saciado.

Às vezes naufrago em mar bravio
A nadar, a agir, seguir em frente
Enfrentar o pesadelo mais sombrio
Lembrança da esperança ressente.

Às vezes amor, ilusão e solidão
Os sonhos: miragens no deserto
Às vezes eu encontro a paixão
Às vezes, da dor, estou liberto.

Às vezes vejo que a vida é bela
Igual novela e barco sem destino
E, às vezes, lembro: a vida é vela
Se apaga no escuro, em desatino.

Às vezes minha vida é um enigma,
Mistério sem fim a cada instante
Para cada "às vezes", um estigma,
Um passo em falso, olhar distante.

O "às vezes", às vezes, é momento
E de ouvir, a ecoar, a voz serena
Os medos, fantasmas, tormentos
Descansam. A sina é amena, plena.

Às vezes há sentido. O "real" mente.
As emoções enganam, plenamente.
Felicidade fugaz, mas não indiferente.
Tantas respostas, porém ausentes.


Souza Cruz

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— Estou com gripe. Não com depressão!!!!

O contexto criativo da obra deu-se após assistir a série "Uma Dose Diária de Sol" (Netflix, direção de Lee Jae-kyoo; Kim Nam-su), e conversas com várias pessoas sobre o tema tratado pela referida série.

Optei por revisar o poema com ajuda de profissionais (psicólogas e uma arte-terapeuta), que contribuíram com apontamentos importantes.

Também consultei quatro IA's (Inteligência Artificial) sobre como pessoas com depressão podem interpretar o poema.

Isso permitiu ajustes alguns em alguns versos, e a ordem das estrofes. É recomendável a leitura completa do poema para compreender a perspectiva do Eu Lírico.

Por sua vez, a leitura apenas das estrofes iniciais é perturbadora e desabonadora. Em todo o verso, mobilizo o recurso de "pensamentos intrusivos" e "fluxo de pensamento".

Em função disso, o arco narrativo do Eu Lírico é complexo. A leitura isolada de um verso ou estrofe, ou a primeira metade do poema, desconsidera a jornada do Eu Lírico, que termina por aceitar as incertezas como parte da vida.
 
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souzacruz
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Enviado por Tópico
Alemtagus
Publicado: 27/07/2024 17:17  Atualizado: 27/07/2024 17:17
Membro de honra
Usuário desde: 24/12/2006
Localidade: Montemor-o-Novo
Mensagens: 3407
 Re: ÀS VEZES p/ souzacruz
Às vezes enlouquece quem escreve quando procura na insanidade do leitor uma desculpa para a sua.

Nota: apenas li as primeiras dez. Depois volto para ler o resto.



Enviado por Tópico
ZeSilveiraDoBrasil
Publicado: 27/07/2024 18:14  Atualizado: 27/07/2024 18:14
Administrador
Usuário desde: 22/11/2018
Localidade: RIO - Brasil
Mensagens: 2215
 Re: ÀS VEZES
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"O "às vezes", às vezes, é momento
E de ouvir, a ecoar, a voz serena
Os medos, fantasmas, tormentos
Descansam. A sina é amena, plena."


"Às vezes" é 'quase sempre', e nem todos os indivíduos são resiliente nas questões tantas... cada quadra trás um ensinamento de vida. Gostei.

Um abraço caRIOca!