Poemas : 

O poema que sabe o que quer

 
O Poema encontrou-me de calças na mão,
desprevenido,
sem ardores, fogos,
sem água, olhares,
sem ventos, mares,
sem vazios, tristezas,
só eu,
e portanto, não soube que lhe fazer.
Agora, preparado,
eivado de emoções,
ágil nas palavras,
confiante na timidez revoltante melancólica do poeta,
procuro o timbre certo, atento à fonte inspirada, de braços às musas.

Esqueço a vontade do poema, a sua liberdade imensa e radical,
esqueço o seu desejo,
esqueço, enfim,
ser ele quem me procura.




 
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gillesdeferre
 
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Enviado por Tópico
Alemtagus
Publicado: 16/08/2024 09:09  Atualizado: 16/08/2024 09:09
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 Re: O poema que sabe o que quer p/ gillesdeferre
Um poema ou qualquer texto, apenas atinge a sua maioridade e liberdade depois de ser lido e criticado, entretanto mantém-se num limbo de liberdades condicionadas, entre grades. A imagem que crias aqui não é a do poeta, mas sim a de um leitor desatento, como, aliás, há muitos nesta casa, que se entretém a opinar sobre o nome do escritor e não sobre a sua obra. Agrada-me esse sagaz sentido crítico, é desafiante.