a areia picava as costas e as mãos castanhas de a tocar, mexer, rebolar, apertar estavam já doentes, da água de sal, na língua dos dedos do sol da tarde, quente e amarelo
os dois olhavam-se, deitados na cama de grãos que picava não ventava, não ruidava, nada bulia apenas as íris abertas de um lado e do outro sorriam as mãos castanhas, doentes dela tornaram doentes as dele, e as mãos dele que acastanharam dela o corpo nu doente de quente do amarelo do sol
abraçaram-se, passando de castanho a branco, amarelo, azul, verde, laranja de comer
depois um beijo longo e comprido, comprimido por ele num corpo dela, dele, quase coberto, encoberto, a coberto dele que assim lhe pesava a ela que espelhava ainda as cores naquela pele dura e macia, madura na zona da bacia
ela, deitada e agarrou-se aos cabelos dele para não cair puxou-os a si usando a força do mar e do sal das dores do grão da sofreguidão de areia emergente
mas ele levantou-se direito, à frente dela amarela e um ângulo reto eixos de coordenadas e abcissas, x ou y? perfeito
assim, em silêncio assim as íris agora a descolar
e quando o sol quase se despediu, ele virou-se de costas e de frente para o mar e foi, sem olhar para trás, ela levantou-se depois e de frente às cores estacou enquanto ele andou andou até apanhar o sol
e ser mais um raio aparente quente
que a mantinha doente
I got that feeling That bad feeling that you don't know(Massive Attack)