I
às vezes sou uma montanha
que não permite que ventos
fustiguem berço
de sementes
ainda em sono profundo
II
faço-me,
quase sempre
de planície carregada
de sementes
para que o vento
faça varredura
III
deixo-me perfumosa
e sedosa mas um dia
ainda serei rosa
da cor do sangue
nos espinhos
IV
em contornos
noite adentro
surge arvoredo
na colheita de
pétalas
meus dedos
V
o vento entrega a poesia
de voz e violão
endeusa a noite molhada.
a ponta acesa de um cigarro
rabisca o escuro
no tropeço de um vulto
VI
minhas passarelas não são
exclusivas para ramos,
flores e pássaros
urtiga também desfila
avultando tons ardidos
nos desavisados.
VII
nas incongruências dos ciclos
dirijo a situação quase com perfeição,
quase sempre
tem situação que me deixa
perdida numa estrada qualquer
de ilusão.
VIII
deste lado
um lago quis ser azul
mas verde é tudo o que é
quão imaturo é por não
se tingir de outras vestes
Aquela mania de escrever qualquer coisa que escorrega do pensamento.