Na minha alma há uma terra
Onde quem defende o ouro nunca erra.
Já os que defendem o sangue
Por pouco são chamados de gangue.
Diz uma voz em mim,
Que não é bem assim.
A ideia de dois pesos e duas medidas
Não cabe nem num copo de bebidas.
Nos que defendem o ouro não há uma coisa feia
Que não esteja nos que defendem o líquido que passeia pelas veias.
Tanto um como o outro
Dão guarida para o porco.
Os rastros do porco podem estar nos dois lados,
Mas mesmo parecendo misturado
Posso distinguir, pois ambos são inclinados
E dos ângulos não resultam os mesmos resultados.
A ideia de farinha do mesmo saco
Serve aos que deixam o povo no buraco
E põem o ouro no casaco,
Como fazem os donos de uma colmeia.
A abelha morre de trabalhar,
Mas não pode saborear
E a ela resta se arrastar feito uma centopeia.
Eu não quero lançar lenha na fogueira.
Nem quero esconder o sol com uma peneira.
Mas eu sei que o jogo sujo
Abre brechas para os ratos, as baratas, os escorpiões, os caramujos;
Para os ovos da serpente,
Para os olhos dos abutres...
O jogo sujo
Abre brechas para um mar de absurdos.