seria bom largar as pedras frias
atrás de um armário qualquer
esconder as feras densas no tecto
e as teias em pétalas, no jardim
depois pintava o céu de amarelo
colava-lhe um sol azul numa cesta
faria chover histórias de rios a escorrer pela janela
e enquanto os pássaros brincassem
a esquiar as cortinas com patins doirados
ia à cozinha preparar-nos pérolas do mar
gratinadas com creme de sonhos
e um cocktail de mel de nuvens e flocos de vento
estendíamos uma manta de lampejos
fazíamos um piquenique a esbanjar mentol
e depois deitados de costas num planeta cru
Olhávamos o espectáculo das serenatas cadentes
até ao clarear de todas as ideias
por fim, beijávamos-nos ao som de pinturas a crescer
até desfalecermos nos segredos das bolas de sabão
acordaríamos numa manhã vermelha qualquer
recém-chegados à vida real...