digo do arrepio
digo do ardor
sem frio
sem calor
digo do sofrer a bom sofrer
digo do ar que pega lume
sem doer
sem queixume
digo do sol e das estrelas
digo dos buracos escuros
sem vê-las
tão impuros
digo do bater das ondas
digo da maré
sem formas redondas
sem pé
digo dos dias e das horas
digo dos lugares
sem agoras
sem pares
digo do duro feito macio
digo do céu ao inferno
sem arrepio
sem caderno
digo tudo e nada digo.
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.