Não ando pelas ruas da amargura,
Nem vagueio pelo céu ao Deus dará...
Mas há noites em mim com tal largura
E às vezes dias, tão curtos, sem manhã...
Não oiço as vozes negras da loucura,
Nem vejo vultos tristes, dor quiçá,
Mas cai de mim um mar que tanto dura
Que vem d'além de mim mas mora cá!
Não sei de onde me vem tal inquietude,
Se, assim, nasci defeito, se é virtude
Ter olho que olha tudo tão insone...
Quer seja na minh'alma a solitude,
Ou nalgum olhar só, sem magnitude,
Essa ânsia é tão voraz que até me come!