Caíram as máscaras, mas o baile não foi cancelado. Aconteceu num salão vermelho onde as portas escancaravam a verdade de cada um.
A mentira não dançou, e o mesmo aconteceu à ganância. Ficaram toda a noite penduradas no cabide do esquecimento.
A felicidade bailou com a ternura, o cuidado com o carinho, e a solidariedade piscou o olho ao desânimo, já que a esperança tomou em mãos o medo, rodopiando por todo o lado.
A banda, no lado esquerdo do corpo, tocava com alegria, bem afinada, cantando a pulmões soltos a vida, música que a todos alimentava naquele dia.
Havia no entanto uma mulher sozinha no veludo da boca, aguardando que a convidassem. - era a tristeza, que melancólica embrulhava afectos em papel de prata.
Até que, sem que ninguém esperasse, entrou no salão o homem que a arrebataria.
Era o amor, toda a gente o sabia.
in: "A preto e brando"