O atual sistema feudalista lista o que quer,
Despista o que é e descarta o que não quer.
Ouço a mão do sistema,
Dos novos suseranos, velhos fulanos, eternos esquemas
Para sugar a massa e deixar a carcaça fora do desenho.
Suserano, senhor feudal, senhor de engenho...
Nomes que não mais comem.
Mas a fome que eles representam
Apresenta agora outras nomenclaturas,
Que significam a mesma voracidade das velhas criaturas.
Voracidade que ganha asas por meio de novos instrumentos
Para não só fazer sofrer, mas também aceitar os sofrimentos.
As correntes que prendem os escravos de hoje
São invisíveis.
Os escravos nem sabem que são escravos.
O acorrentado se sente preso,
Mas não sabe a quê.
Pode pensar que seja ao que não tem,
Ou a todo mundo ou a ninguém.
O acorrentado se sente preso.
A prisão é invisível,
Mas se sente o peso.
A dor é sentida.
As correntes são invisíveis.
Traficantes de escravos,
Senhores de engenho, feudais, suseranos atuais,
São todos invisíveis.
Mas a dor é sentida.
O açoite e o chicote também são invisíveis.
Mas a dor é sentida!
O ferro, em brasa, rompendo a pele
Para identificar o proprietário
É invisível.
Mas a dor é sentida!
O chiado e a fumaça do ferro
Que identifica o proprietário
São invisíveis.
Mas a dor é sentida!
A dor é sentida, a dor é sentida...