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A saia que era da avó,...

 
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O café não arrefece. A pequena colher já com laivos de ferrugem para um lado, para outro. A força da gravidade replicada. Ela enerva-se. São as horas que tiverem de ser. Não gosta de fazer esperar ninguém. Há uma nódoa na roupa. A saia que era da avó. Ela não iria gostar se ainda por cá andasse. Dão-lhe um bom dia inocente. Ela responde com um olhar altaneiro, e egoísta. A nódoa que não sai. Está atrasada. Há pessoas para encontrar, assuntos para resolver. Tempo para domar. Essa é a parte que menos gosta. Saber que vai perder mais adiante, tudo o que tiver ganho na força do momento. E a nódoa que não sai. Haverá pó de talco neste maldito sitio. Tem de deixar de aqui vir. Há mais cafés no mundo. As pessoas são feias, com um ar desesperado. Inquisidoras. Aleivosas mesmo. E a porcaria da nódoa que não atenua. Vai levantar-se. Há um tarado que olha para ela. Cabelo lambido, olhar perigoso. Despreza-o. Se pudesse veria-o a sofrer até que...

Levanta-se. Dois sacos numa mão. A mala com o computador no ombro esquerdo. Na rua chove. Vai ter de se molhar. O carro está longe. O cabelo precisa de humidade. E ela está atrasada.


Ruacuzuaco

 
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ruacuzuaco
 
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Enviado por Tópico
loo
Publicado: 26/06/2024 08:20  Atualizado: 26/06/2024 08:20
Participativo
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Mensagens: 39
 Re: A saia que era da avó,...
Imenso gosto
c/a leitura .

Abraço


Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 26/06/2024 10:31  Atualizado: 26/06/2024 10:31
Usuário desde: 06/11/2007
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 Re: A saia que era da avó,...
Escolhemos a frase mais insípida para título...

Mas o que dizer do resto?
Detesto atrasos. De me atrasar, que se atrasem comigo.

Atrasado é uma ofensa séria, quando a profiro.
O resto é devaneio, invariavelmente de qualidade.
Tarado e tudo.

Abraço