Bem vistas as coisas
andamos desmontados
uns noutros
de família a arqui-inimigos
trocados
pagos
vendidos,...
Rios a correr para lagos.
Ainda que nos maquilhemos
ao lavar o rosto
ou com um sorriso
ou com umas lágrimas sinceras
depois saímos à rua, de vento composto.
Damos à língua, à nossa medida,
ouvimos só o que cremos
queremos empatia, um pathos qualquer.
Mas que jeito
um espelho dava (impureza,
Homens a dobrar*),
para nos curar destas tristes figuras...
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.
* Homens a dobrar, conceito já apresentado por Jorge Luís Borges, na obra ficções