Acordou!
Agitou os braços no ar.
Levantou-se!
Os chinelos não estavam no sitio mas nem reparou.
Caminhou até à casa-de-banho.
Ele chorava agarrado a nada com os chinelos ensanguentados, ele gemia, ele sofria, ele doía e saía de si para se ver no espelho. Ele não era! Ele nada. Ele tudo. Ele nem mais nem menos. Sofrido e dorido continuava abraçado a nada com as mãos quietas, mudas, paradas, seladas em gestos que nunca se davam.
Lavou a cara, respirou fundo,
lavou os dentes,
as olheiras não se conseguiam disfarçar.
Deu dois passos e tropeçou nela.
Não tinha reparado que ela se tinha levantado já, não tinha reparado em nada, imbecil, inútil, pensava em si e no quanto não a amava enquanto chorava agarrado a nada com os chinelos ensaguentados. Ele ali não era, ele nada, ele tudo, ele nem mais nem menos e ele ficava ali assim ficava sozinho chorava com os chinelos ensaguentados.
Ela levantou-se de uma noite não dormida,
caminhou decidida até à casa de banho,
sem o gosto da vida na boca, tomou uma caixa de tranquilizantes.
Ficou tonta, agarrou-se à cortina enquanto caía,
a cortina rasgou, o marido não ouviu e ela ficou agarrada ao seu corpo
enquanto uma nódoa de sangue começava a formar-se debaixo da cabeça.
Deitou-se!
Agitou os braços no ar.
Adormeceu!
Os chinelos repousavam aos pés da cama.
Ela caminhou até à casa de banho.
. façam de conta que eu não estive cá .