Sou quem mais quero conhecer
O tempo passou e criei um outro eu
Talvez alguém que gostariam que eu fosse
Alguém que se adaptasse a tantas regras
Alguém que se parecesse mais aos meus pares
Um EU que não era EU
Então percebi que usava lentes que não eram minhas
E resolvi tirá-las
Mas já estavam quase grudadas em meus olhos
E resolvi tentar limpá-las
E vi o quão difícil é limpar
Os medos de largar o que era real pra mim me assustavam
O que eu achava que gostava, na verdade não gostava tanto
Nem mesmo meus amigos eram interessantes como imaginava
Estava fechado em um quarto escuro sem janelas
Mas vi que não estava sozinho nessa caminhada
Só de mirar um pouco além já abre portas
E reconhecê-las permite seguir caminhando
Começar a ver cada situação e oportunidade com um novo olhar
Ter mais consciência sobre a bifurcação de cada decisão
Mas, distraído, ainda me pego usando as lentes antigas
Deixando as pessoas me enxergarem que sou tais lentes
E me deixando levar como se assim o fosse
Mas enxergo que, de fato, não sou
E percebo que não me atrai mais esse jogo de lentes
Quero ser firme nessa busca
Dedicar mais tempo a mim mesmo
Brincar mais, pintar mais, dançar mais
Redescobrir o que já nem lembro mais
Reviver a criança em mim e ampará-la com a visão mais limpa
Voltar a enxergar o brilho e as cores de cada momento
Largar os botões que aciono sem pensar
Quiçá me livrar dessas lentes pelas sombras
E quiçá encontrar meu lugar ao sol não seja o fim
Quiçá esse lugar nem exista
Quiçá o caminhar comigo seja o melhor fim