Poemas : 

Chamas de Azul

 
Garça

pensaste-me círculo, e eu sempre fui esfera
volume, área, dimensões a três
força
com que me expulsei de ti
ainda de cordão umbilical


:Esplanada com vista, caderno com lápis e marijuana pra fumar. Três essenciais pró dia a dia. Pra escrever, práfundar:


rogas que fique, que viva, que sonhe, que dance e contigo
morra em cinzas azuis. a cor das árvores que habitámos, coxas.
Meu tigre alado, de onde me conheces?

o manicómio é a minha casa e visto Dior e Chanel, até a dormir. visto Perfume.
remanescências da casca
o mesmo lume da tasca.
quente. tudo quente. e Tudo a latejar.
das drogas, dos mundos, dos nervos.


:sentas à minha frente!!! de costas:


óculos pró sol, chapéu óbvio. um lenço Hermès pró caso…
passeio alegre na costa, carta livre até à noite.
as calças rotas nos joelhos não me denunciam.
talvez o sapato novo. caro.
um luxo no pé. bom de pisar.
pra ninguém. pra mim. alguém?


:senti-te:


vou pedir adesivos com pasta de cocaína pra pôr no Umbigo
como quem enjoa no movimento
como quem deseja um ardor violento
doente. até ao fim. uma crença eterna


:qualquer coisa te mexe, te incomoda:


Criança que morreste em mim, jura
não quero qualquer tipo de cura, mas
uma peste de Camus,
uma cegueira de Saramago,
branca e leitosa, anestésica como propofol
um statu de quasi coma cego e branco
morto pra luz pra lua, não o lume
que continua a arder, a queimar


:Viras-te, mas já sabes: sou eu…:


o mundo eu não quero a vida só assim
num reator nuclear, um átomo em reação de fissão. a forma da usina
uma cama a arder, sem alarme ou extintor
uma casa em obras por Portas partidas
com janelas caídas


:rocha!:


levaste-me num Tango teu, nosso… leeento, leeento, rápido, rápido, leento, leento…
oito, oito
braços fortes que me seguram
as costas e empurram e puxam, comandando, conduzindo,

como se nosso fosse tudo,
sempre e agora,
como se o meu fosse uma extensão do teu corpo que gira e
um sapato vira com
a velocidade da volta
coxa como as Árvores,
liberto o outro

e sinto muito
o chão, o piso, o deslizar da pele do pé


:os teus olhos:


e eu, com um pé ainda nervoso, gracioso do sismo da valsa vienense que enlançamos sobre o vidro no mar
volteia. roda agora. circula em círculo. espera! Esfera?
completo e perfeito esse empernamento
desfeito


:os meus não vês mas é irrelevante:
:olhas através de mim: como radioatividade:


o vinho em lençóis de linho bordados
lembra a tasca rasca onde morámos


:como íman levantas e vens:
:levanto e vou:
:e sentes apenas o perfume que se afasta:
:volume que queres, queres e não tens:


com cursos de água no rosto,
sem diques,
um mar no peito apaga as minhas chamas Azuis,
doença de quem pode apenas
lembrar o futuro


I got that feeling
That bad feeling that you don't know
(Massive Attack)

De Alice Maya
 
Autor
Beatrix
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Enviado por Tópico
AlexandreCosta
Publicado: 19/06/2024 18:23  Atualizado: 19/06/2024 18:23
Super Participativo
Usuário desde: 06/05/2024
Localidade: Braga
Mensagens: 174
 Re: Chamas de Azul
não é fácil sair de um caos emocional dessa envergadura!
quando se guarda tanto de intensamente bom mas que ao fim foi um desastre, não é fácil olhar o futuro com esperança!

muito intenso, diria que linha a linha é ver as vísceras a saltar pelos dedos!


Enviado por Tópico
Abissal
Publicado: 19/06/2024 19:32  Atualizado: 19/06/2024 19:32
Membro de honra
Usuário desde: 27/10/2021
Localidade:
Mensagens: 581
 Re: Chamas de Azul
Gostei da leitura, e aproveito para agradecer todos os comentários que fez até agora aos meus parcos poemas.

Tem uma intensidade de escrita, única.

Abraço


Enviado por Tópico
ruacuzuaco
Publicado: 20/06/2024 06:14  Atualizado: 20/06/2024 06:14
Super Participativo
Usuário desde: 11/05/2024
Localidade: Verderena
Mensagens: 116
 Re: Chamas de Azul
Uau. Não me sinto qualificado para comentar tamanha perfeição
🙂