Poemas : 

O QUE RESTA DE MIM

 


já fui germen
já fui broto
cresci forte
subi ao azul
senti-me poesia
com folhas escritas de vento
a embalar flores e frutos
fui abrigo de asas e corações
alguns tatuaram-me amores
fui sombra, fui casa,
fui amiga de todos os bichos
morri nas lâminas
dentes motorizados malditos
sabiam lá quanto poderia viver...
e amar
cortaram, lascaram, serraram
por fim trituraram-me
lançaram-me sobre uma miscelânia
quimicamente pastosa
mexe, remexe, aquece, arrefece...
fui parar a tantas mãos
branca como cal
hoje sobrevivo
num pequeno caderno amarelado
é o que resta de mim
nas mãos de um ser aluado
que adora gravar-me
com as letras dos seus sonhos
no meu tempo
não havia computadores
nem discos, nem pendrives
nem nuvens sem água
senão
hoje talvez ainda fosse...
EU a razar as nuvens
de tronco altivo...
e copa verde vivo...
majestosa!


09-06-2024


 
Autor
AlexandreCosta
 
Texto
Data
Leituras
76
Favoritos
1
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
12 pontos
2
1
1
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 10/06/2024 07:28  Atualizado: 10/06/2024 07:28
Usuário desde: 06/11/2007
Localidade:
Mensagens: 2039
 Re: O QUE RESTA DE MIM
Gostei, mesmo muito, deste ciclo do papel...
Tem um lado naif que sabe bem.
Mas não se escusa ao lado obscuro também.

Depois há um apelo positivo e escondido à reciclagem.
Nos últimos versos, críticas ao consumismo...

Muito forte.
Favoritei