Reminiscências antigas
De um passado longínquo
De outras eras, outros amigos
Que me servem de prólogo
Para este texto ambíguo
Cujo título será " Até Logo".
Era uma noite mal dormida.
Meu corpo cansado pedia ócio.
A fadiga do trânsito, dos negócios...
Uma voz em monólogo melancólico
Deixava minh'alma mal ferida
Quando repetia: "Até logo! Até logo!"
Talvez fosse o sibilar dos ventos
Daquela noite estranha e intempestiva
Que me surrupiava os pensamentos,
Elevando-me ao mundo dos entes mortos
De uma forma ilusória ou imaginativa
Repetindo: Até logo! Até logo! Até logo!
Foi bizarro e bisonho a noite fatídica.
Nem um pio de pássaros do lado de fora.
O medo e o pavor me furtavam a força física;
Quando me aproximei da janela, abri a cortina
E percebi um vulto distorcido de uma senhora
Repetindo o monólogo: Até logo! Até logo!
Não pude conter meu grito de espanto.
Algo tenebroso adentrou todo o meu ser.
Por mais que eu tentasse não conseguia entender
O que se passava próximo ao meu recanto
De repouso e lazer ( Agora mesmo a Deus rogo)
Ouvindo tal canto: Até logo! Até logo! Até logo!
A figura feminina trazia os cabelos alvejados.
As vestes eram de uma claridade ofuscante.
A pele alva dos corpos inertes não identificados
Pelo meu cérebro que paralisava-se neste instante;
Quando percebi que o vulto estava bem próximo
Surrando aos meus ouvidos: Até logo! até logo!
Acho que desfaleci no crucial momento.
Amanheceu o dia morno, sonoro e azulado.
Quando dei por mim, estava no sofá, deitado.
Balançava uma folha de papel pelo vento
Que entrara pela janela e eu isento de escorvo.
Peguei da folha. Era o poema de Poe, "O Corvo".
Até hoje, quando me lembro, ainda choro
Das letras garrafais, na vidraça, que diziam: Até logo!
Gyl Ferrys