Poemas : 

Empatia

 
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Sonhei que eu era uma criança
Sendo queimada viva na Faixa de Gaza.
Eu gritava, pedia socorro...
Para recebê-lo estirava a mão,
Mas as línguas de fogo apagaram a minha respiração.
Vi meu corpo lambido
E me vi com asas para voar.
Vi a face dos disfarces.
Senti as chamas na minha alma,
Tão ardentes quanto as que lamberam o meu corpo.

As chamas antes de me queimarem,
Queimaram meus filmes.
Nos últimos minutos subiam as letrinhas.
Queimaram os créditos, os agradecimentos, as festinhas...
As chamas antes de me queimarem,
Queimaram meus aniversários,
Meus desenhos animados,
Minhas musiquinhas pra eu dormir...
Queimaram a festa de formatura da alfabetização.
Queimaram os abraços dos meus pais, dos meus avós,
Da minha irmã de três anos que corria até o portão para me abraçar quando eu chegava da escola.
Queimaram meu sorriso com uma janelinha na boca,
Que eu o apreciava nos olhos de minha mãe.
Queimaram minha cavalgada nas costas do meu pai.
Queimaram as cenas nas quais eu voava dos braços para os braços do meu pai.
Queimaram os sonhos meus e de meus coleguinhas,
Sonhávamos em ser escritor, professor, ator, cantor, jogador de futebol...
Sonhávamos com a lua, com as estrelas, com a praia em um dia de sol...
Sonhávamos...


 
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magnoerreiraal
 
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Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 01/06/2024 19:56  Atualizado: 01/06/2024 19:57
Usuário desde: 06/11/2007
Localidade:
Mensagens: 2039
 Re: Empatia
9. bivaque


Pediram-me a auréola do santo,
mas sou todo feito de vil pecado.
A santidade mora mesmo ao lado,
mais do que risos, conheço o pranto.

Estacionado de pelotão ao canto,
espero pelo tão infinito brado.
A luta, sem metáfora, é o fado
e de terra desfeita é o meu canto.

Se o ataque é a melhor defesa,
nunca sei muito bem o que defendo.
Será a defesa, o melhor ataque?

Baioneta erecta, sempre tesa,
sangue a escorrer, negro, ardendo.
Não tenho auréola, só bivaque.


de cheiramázedo

in Dez Sonetos da Guerra na Crimeia