Poemas : 

a uma sombra

 
era uma vez lusco
era uma vez fusco
e as sombras que ambos sombreavam
com dedos encardidos de giz
nunca eram simples sombras

mas geometria imperfeita
de quem se diverte
com lógicas e absurdos
que o criador assim criou
em tempos idos de ditados

como catraio em dia de cábula

cortam aqui contornam acolá
tanta vida tão vária e tão curta
como se falhasse qualquer coisa
e à falta de coisa melhor
tocassem a duplicar

colorindo a negro
todos os seres e objetos e lugares
às custas do velho emasculado
que nem sabia o que era primavera
e o mar era simples lençol de água

não é assim para este poste de salitre

que o lusco-fusco desvanece em vê
sobre o asfalto a arrefecer
que assim cantam em silêncio
a várzea das vagas o vento
o verbo a vitória o vazio

 
Autor
Benjamin Pó
 
Texto
Data
Leituras
362
Favoritos
2
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
34 pontos
4
7
2
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
Barbozza
Publicado: 30/05/2024 16:17  Atualizado: 30/05/2024 16:17
Membro de honra
Usuário desde: 24/07/2009
Localidade: Brasil - Alagoas
Mensagens: 1668
 Re: a uma sombra
Benjamin Pó, BELO POEMA CARO POETA, ABRAÇO.


Enviado por Tópico
Nanda
Publicado: 31/05/2024 12:47  Atualizado: 31/05/2024 12:47
Membro de honra
Usuário desde: 14/08/2007
Localidade: Setúbal
Mensagens: 11099
 Re: a uma sombra
Benjamim

Um belo poema tecido ao luso fusco da alma.

Nanda