é como ir de vento em vento
a cortar folhas pela raíz
ou uivar aos lobos famintos
e prostrar-lhes a tinta
duma sanguessuga
é como trepar a mais alta montanha
e desprender-lhe as nuvens
e cair derretido na neve
e a neve escorrer de si o branco
e fica a montanha a ouvir histórias
é como dar um salto de mar
e ancorar numa ilha sensível
e correr de lá as gaivotas e os mergulhões
para espremer as asas de si
até queimar as areias finas de sede
é como ser rio incomum de correntes indirigíveis
a galgar as raias inadmissíveis da terra
e prescrever-lhe medicação decente
sem que espere nas filas in(de)termináveis dos penhores
é como cruzar os céus de um Deus que olha
e que de tanto olhar se cansou das estirpes
e eu que olho e não me canso
de que estirpe sou?
29-05-2024