As máscaras colaram nas faces,
Não ficaram apenas como disfarces.
As máscaras nos amarraram.
Usamos e abusamos. Elas nos capturaram.
Elas tendem a nos deixar com a cara lavada,
Sem coração, sem alma, olhando pro nada.
Nessa maré, o ser no parecer não aparece.
A ilusão bate asas, voa alto e incandesce.
Essa fotografia,
Que não retrata o que o fotógrafo percebia,
Abre espaço para a assombração, para o açoite
E para a serpente, que cresce dia e noite.
As minhas vistas escurecem nessa festa insípida
Feita por quem se aproveita dessa sociedade líquida,
Que assim como a água se ajeita onde é jogada,
Sem forma, conduzida pela gravidade e pelo vento.
Nesse estabelecimento
A vida é aviltada.
Os que sopram topam tudo pelo lucro.
O ser é só um fruto.
Isso corrói as sementes,
Faz surgir safras doentes.
De bom não vai surgir nada
De sementes envenenadas.
Em cima de uma árvore apodrecida,
Não se pode construir uma casinha cheia de vida.
Construir é difícil, demorado.
Destruir é fácil, num piscar está acabado.
Nessa atmosfera envenenada pelos que colhem o que não plantam
A flor murcha, os pássaros não cantam.
O sol, a lua, as estrelas não brilham.
O ar está pesado.
O mar, o rio, o riacho, nada está para nado.
O vento
Não balança as árvores oferecendo som e movimento.
Atacam a alma, petrificam o coração
E a natureza derrama lágrimas diante da destruição.