não esqueço aquele cruzamento
quando colidimos de frente
e depois fomos à boleia duma estrada
lembro de todas as horas dos minutos e dos segundos
a caminharmos descalços
e a cada passada cada vez mais nus
lembro dos olhos que olhavam
a despir-se em cada sorriso
lembro de todas as pontes
de dedos entrelaçados
lembro de todas as árvores
de ramos de braços envoltos
dos rios com sabor a àgua doce
a correr pelas bocas
Lembro até dos pássaros a cantar os sonhos
e lembro mais ainda do mar
e de nós
fechados num espaço de infinito
onde tudo nos cabia num beijo
onde às mãos cabiam sedas e tonturas
onde nos braços cabíamos inteiros
e inteiros cabíamos um no outro
e o mar lá, cabido em nós
e nós a encher o mar ali ao pé
a um punhado de distância
com o mar de sal refinado que nos brilhava
lembro que adormecemos por ali
já a noite era quente, quente...
lembro de acordar numa voz de sussurro
entre os fios de cabelo em cascata
a esconder um beijo
lembro de um quarto só janela aberta para o sol
e lembro de olhar-te nos olhos
e ver um poema
onde sol eras tu!
13-04-2024